Especiação em Akodon cursor (Winge, 1887): uma abordagem multidisciplinar

Nome: Cristina Dornelas de Andrade Nogueira Massariol
Tipo: Tese de doutorado
Data de publicação: 29/02/2016
Orientador:

Nome Papelordem decrescente
Valéria Fagundes Orientador

Banca:

Nome Papelordem decrescente
Yatiyo Yonenaga-Yassuda Examinador Externo
Lena Geise Examinador Externo
Ana Carolina Loss Rodrigues Examinador Interno
Celso Oliveira Azevedo Examinador Interno
Valéria Fagundes Orientador
Maria José de Jesus Silva Suplente Externo
Yuri Luiz Reis Leite Suplente Interno

Resumo: Akodon cursor (Winge, 1887) é um roedor sigmodontino com ampla distribuição geográfica ao longo da encosta Atlântica brasileira e elevado polimorfismo cariotípico com 2n=14, 15 e 16 e variação do número de braços autossômicos de 21 a 28, totalizando 31 cariótipos distintos para a espécie. Dados moleculares envolvendo 402 indivíduos e 63 localidades revelaram em A. cursor uma estruturação geográfica, clados Norte e Sul, com divergência genética de 4,4% para COI e de 2,5% para Cit-b, cuja quebra filogeográfica está localizada entre norte de Minas Gerais e sul da Bahia, coincidente com o Vale do Jequitinhonha e influenciada pela altitude. Em ambos os clados foram encontrados os cariótipos 2n=14, 15 e 16, embora haja maior frequência da forma 2n=16 ao Norte e da forma 2n=14 ao Sul. Dados demográficos indicam equilíbrio populacional ao Norte e expansão ao sul, com componente cariotípico contribuindo para essa diversificação. A realização de 185 cruzamentos experimentais envolvendo exemplares com condições geográfica (interclado) e cariotípica (2n=15) intermediárias permitiu concluir que o isolamento reprodutivo entre os clados Norte e Sul ainda não é completo, já que descendentes entre esses (interclado) foram gerados e com elevada taxa de sucesso reprodutivo (cerca de 80%). Em contrapartida, parentais 2n=15 apresentaram redução do sucesso reprodutivo quando em conjunto com outro 2n=15, sendo a combinação (fêmea x macho) 2n=15x2n=16 a menos favorável e 2n=14x2n=15 a mais favorável, revelando que há maior afinidade entre exemplares 2n=14 e 2n=15 e que o sucesso reprodutivo tende a ser menor quando a forma 2n=15 está presente em fêmeas. Além disso, entre exemplares com mesmo número diplóide observou-se redução na frequência de sucesso reprodutivo entre os descendentes gerados em cativeiro, quando comparado aos exemplares matriz (coletados na natureza). Nossos dados mostraram que sucesso reprodutivo e agressividade foram influenciados pelo cariótipo e clado de origem dos parentais, respectivamente, sugerindo que a reprodução entre os indivíduos e a viabilidade de descendentes é distinta entre exemplares 2n=15 e 2n=14 ou 16 e entre os grupos Norte e Sul. Dados de histologia de testículo e de cruzamentos intra e interespecíficos confirmaram a esterilidade dos híbridos (2n=19, 20) entre A. cursor e A. montensis Thomas, 1913, diferente do observado entre os possíveis híbridos 2n=15 e interclado de A. cursor, que apresentam fertilidade reduzida e fertilidade elevada, respectivamente. Para a formação de híbridos interespecíficos foram realizados 80 cruzamentos que comprovaram que a introgressão é bidirecional, muito embora o maior sucesso reprodutivo registrado (75%) tenha ocorrido entre
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fêmea de A. montensis 2n=24 x macho de A. cursor 2n=16 (clado Norte). As formas cariotípicas que não geraram híbridos foram 2n=23 (fêmea) e 2n=25 (fêmea e macho) em A. montensis e 2n=15 (fêmea) em A. cursor. Considerando que a forma 2n=14, condição derivada em A. cursor, é a mais frequente nas populações do sul em A. cursor onde ocorre simpatria com A. montensis, acredita-se que a barreira ao fluxo gênico seja mais efetiva nas áreas de simpatria, mantendo a identidade de cada espécie. Nesses casos, a barreira reprodutiva mais eficiente ao sul seria imposta pelo cariótipo. Há distinção morfológica/anatômica entre Norte e Sul de A. cursor, e esta é concordante com a diversificação geográfica encontrada nas análises moleculares. Assim, o uso de critérios morfológicos e de monofilia recíproca apontam distinção Norte e Sul, no entanto, sem sinais de isolamento reprodutivo entre essas populações. Entre 2n=14 e 2n=16 verifica-se comprometimento reprodutivo do intermediário (2n=15), indicando um processo incipiente de especiação estasipátrica, com o favorecimento de fixação da forma 2n=16 ao Norte e de 2n=14 ao Sul da distribuição atual.

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