Muriquis e Onde Habitam: Fatores que interferem na distribuição espacial de grupos sociais na Mata Atlântica fragmentada
Nome: LUANA D`AVILA CENTODUCATTE
Tipo: Tese de doutorado
Data de publicação: 23/02/2017
Orientador:
Nome | Papel |
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Sérgio Lucena Mendes | Orientador |
Banca:
Nome | Papel |
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Adriano Pereira Paglia | Examinador Externo |
Carlos Eduardo de Viveiros Grelle | Suplente Externo |
Karen Barbara Strier | Examinador Interno |
MARIA CECILIA MARTINS KIERULFF | Examinador Externo |
Sérgio Lucena Mendes | Orientador |
Taissa Rodrigues Marques da Silva | Suplente Interno |
Yuri Luiz Reis Leite | Examinador Interno |
Resumo: RESUMO
Em um mundo de paisagens naturais altamente fragmentadas, é conveniente identificar
diferentes tipos de comportamento de movimentação animal e como eles contribuem
para a compreensão dos processos de dispersão e distribuição de espécies. A demanda
por produtos agrícolas cria novos padrões de uso da terra e influencia as taxas de
desmatamento, alterando a conectividade entre os habitats, o grau de isolamento e o
fluxo genético entre populações, influenciando, portanto, a persistência das espécies na
paisagem. Neste contexto, esta tese abordou hipóteses sobre como as características do
habitat afetam a distribuição e a movimentação dos muriquis, um primata endêmico
criticamente ameaçado, em uma região de Mata Atlântica. Usando dados coletados em
campo, teoria dos grafos e modelos espacialmente explícitos baseados no indivíduo, foi
possível analisar a resposta populacional de muriquis às variáveis da paisagem, fazer
inferências sobre distribuição de grupos sociais, movimentação animal e crescimento
populacional e sugerir estratégias de conservação que podem ser implementadas na
região. Dados mostram que, de 1970 a 2008, a cobertura florestal aumentou quase três
vezes. O número de fragmentos florestais diminuiu mas o tamanho aumentou, refletindo
uma regeneração natural que conectou alguns dos fragmentos que se encontravam
isolados no passado. O tamanho do fragmento, a conectividade e o crescimento florestal
foram identificados como fatores que influenciaram a distribuição de muriquis e a sua
persistência na paisagem que, provavelmente, foi assegurada pela regeneração da
floresta e pela sua habilidade em explorar florestas secundárias. Dados empíricos
mostraram que, em fragmentos florestais isolados, houve uma mudança completa do
comportamento esperado de muriquis, que apresenta um padrão onde somente fêmeas
dispersam. Pelo menos cinco fêmeas permaneceram em seu grupo natal e se tornaram
sexualmente ativas, enquanto outras deixaram o grupo e tornaram-se solitárias. Em
fragmentos florestais funcionalmente conectados, o comportamento esperado foi
preservado, com dispersão de fêmeas entre grupos. Além disso, foi relatada a fissão de
um grupo em dois grupos sociais diferentes, em que o menor migrou para outro
fragmento cruzando uma estrada e uma plantação de eucalipto. O modelo MPSG
(Muriqui Population Spread and Growth), desenvolvido para simular o comportamento
de movimentação dos muriquis pela paisagem, utilizou dados de dinâmica populacional
como um regulador dos eventos de migração. A simulação resultou em um aumento
populacional médio de 2,4 vezes nos próximos 50 anos, com a migração das fêmeas
desempenhando um papel importante nesse crescimento populacional. Entretanto, mais
de 60% das fêmeas provavelmente não terão sucesso em encontrar um parceiro
reprodutivo porque a dispersão pode levá-las a fragmentos sem grupos sociais de
muriquis. Verificou-se que, para espécies que apresentam processo de dispersão como
os muriquis, a conectividade pode ser tão importante quanto o tamanho do habitat. Para
fins de conservação, propomos incrementar a conectividade entre os fragmentos
florestais, estabelecer um corredor protegido de biodiversidade e translocar fêmeas
jovens para outros grupos sociais da mesma região. Este estudo demonstra a
importância de análises históricas da paisagem para compreender o potencial de
recuperação de populações de espécies ameaçadas de extinção. Modelos que estimam o
comportamento de indivíduos, incluindo informações espaciais e populacionais, podem
ser uma poderosa ferramenta para entender como as características da paisagem no
passado moldaram a distribuição das espécies no presente e projetar a persistência dessa
espécie no futuro.
Palavras-chave: Brachyteles hypoxanthus; conectividade de habitat; heterogeneidade da
paisagem; regeneração florestal; dispersão; modelos baseados no indivíduo.