Taxonomia integrativa revela diversidade críptica em Trachops cirrhosus (Chiroptera, Phyllostomidae)

Nome: BRUNA DA SILVA FONSECA
Tipo: Tese de doutorado
Data de publicação: 12/03/2019
Orientador:

Nomeordem decrescente Papel
Albert David Ditchfield Co-orientador
Yuri Luiz Reis Leite Orientador

Banca:

Nomeordem decrescente Papel
Albert David Ditchfield Coorientador
Cecília Waichert Monteiro Suplente Externo
Elisandra de Almeida Chiquito Examinador Interno
Joyce Rodrigues do Prado Suplente Interno
Renato Gregorin Examinador Externo
Roberta Paresque Examinador Interno
Valéria da Cunha Tavares Examinador Externo
Yuri Luiz Reis Leite Orientador

Resumo: Trachops Gray, 1847 (Chiroptera: Phyllostomidae) é um morcego carnívoro monotípico, com
apenas Trachops cirrhosus (Spix, 1823) reconhecida atualmente. Existem três subespécies
que ocupam grande parte da região Neotropical, ocorrendo do sul do México à Nicarágua (T.
c. coffini), da Costa Rica ao sudeste e nordeste brasileiro (T. c. cirrhosus) e do sul do Brasil à
Bolívia (T. c. ehrhardti). Embora o gênero tenha origem antiga, ca. 17 milhões de anos atrás,
fósseis da espécie são escassos e relativamente recentes, datando do Pleistoceno Tardio e
Holoceno. No que diz respeito à taxonomia, estudos genéticos levantaram a hipótese de
especiação críptica no gênero, mas nenhum trabalho integrando diferentes matrizes de dados
foi feito até o momento. O principal objetivo do presente estudo foi investigar a diversidade
de Trachops ao longo de sua distribuição geográfica, integrando análises moleculares,
morfométricas e ecológicas para compreender a taxonomia do gênero. Utilizei o conceito de
espécie de Linhagem Geral e critérios operacionais baseados em: 1) monofiletismo nas
filogenias moleculares com base em três marcadores mitocondriais e um nuclear; 2)
divergência morfométrica com análise de Normal Mixture Models; 3) divergência de nicho
ecológico, por meio de modelagem e teste de identidade de nicho. Além disso, a filogeografia
de Trachops também foi revisitada utilizando redes de haplótipos e estimativas de tempo de
divergência para se compreender os padrões de distribuição das linhagens genéticas. Os
resultados mostram que Trachops deve ser dividido em 2 espécies: T. ehrhardti, monotípico e
T. cirrhosus, com 2 subespécies (T. c. cirrhosus e T. c. coffini). As análises filogenéticas
apontaram para a existência de 7 linhagens geograficamente estruturadas de Trachops com
divergências genéticas > 5%. Dentre essas, a linhagem da porção sul da Mata Atlântica (T.
ehrhardti) apresentou-se como a mais divergente, separando-se do grupo irmão (T. cirrhosus)
há cerca de 7 milhões de anos. A árvore coalescente de espécies reforça a ideia de que essas
duas grandes linhagens são espécies distintas, embora o suporte estatístico para T. cirrhosus
seja relativamente baixo na árvore de genes. As análises morfométricas indicam 2 formas de
Trachops: uma de tamanho maior e outra de tamanho menor. Embora essa diferença seja
significativa, ela não é conspícua, possivelmente devido à grande distribuição geográfica de
T. cirrhosus e, portanto, à existência de formas intermediárias. Trachops ehrhardti da Mata
Atlântica e T. c. coffini da América Central tem tamanhos similares, mas apresentam
diferenças morfológicas. Trachops c. cirrhosus é maior, apresentando variação clinal de
tamanho, e o Panamá parece ser a zona de contato com T. c. coffini. Os modelos de nicho
ecológico dos três táxons mostraram áreas de adequabilidade distintas principalmente para T.
ehrhardti. O teste de sobreposição de nicho revelou maior sobreposição entre T. ehrhardti e
T. c. coffini, do que entre T. ehrhardti e sua vizinha T. c. cirrhosus, sugerindo que a
9
semelhança entre os nichos pode estar atuando para manter as semelhanças em tamanho.
Além disso, o teste de identidade de nicho corroborou a singularidade dos nichos para cada
táxon. Lançando mão desses resultados, fica clara a distinção genética, ecológica e
morfométrica entre T. ehrhardti e T. cirrhosus. Trachops ehrhardti mostra pouco
compartilhamento de haplótipos e diversificação apenas durante o Pleistoceno. Já T.
cirrhosus tem alta diversidade haplotípica e valores de FST esperados para populações
panmíticas, embora contenha 6 linhagens geograficamente estruturadas. A origem do gênero
parece ter sido na América do Sul, uma vez que T. c. coffini teve sua origem há 2,96 milhões
de anos atrás, coincidindo com a data mais recente proposta para o fechamento do Istmo do
Panamá. A linhagem de de T. cirrhosus com maior distribuição geográfica ocupa vários
biomas da América do Sul, incluindo a Mata Atlântica do nordeste brasileiro e Amazônia. As
diferenças florísticas atuais entre as porções norte e sul da Mata Atlântica e todas as
interações bióticas e abióticas envolvidas podem representar barreiras ecológicas para as duas
espécies de Trachops.
Palavras-chave: espécies crípticas, filogeografia, morfometria, modelagem de nicho
ecológico.

Acesso ao documento

Acesso à informação
Transparência Pública

© 2013 Universidade Federal do Espírito Santo. Todos os direitos reservados.
Av. Fernando Ferrari, 514 - Goiabeiras, Vitória - ES | CEP 29075-910