Variação e multidimensionalidade no uso do espaço em muriquis-do-norte (Brachyteles hypoxanthus).

Nome: Marlon Lima
Tipo: Tese de doutorado
Data de publicação: 22/02/2022
Orientador:

Nomeordem decrescente Papel
Karen Barbara Strier Orientador

Banca:

Nomeordem decrescente Papel
Albert David Ditchfield Examinador Interno
Andressa Gatti Suplente Externo
Danielle de Oliveira Moreira Suplente Externo
Fabiano Rodrigues de Melo Examinador Externo
Karen Barbara Strier Orientador
Milton Cezar Ribeiro Examinador Externo
Sérgio Lucena Mendes Examinador Interno

Resumo: Estudos produzidos ao longo de quase 40 anos na
população de muriquis-do-norte (Brachyteles hypoxanthus) da
RPPN-Feliciano Miguel Abdala em Minas Gerais, Brasil, oferecem
uma grande oportunidade de avaliar a variação nos padrões dos
movimentos de animais que vivem em grupos e sua relação com
fenômenos ecológicos, sociais e comportamentais que variam no
espaço-tempo. Os grupos de muriquis passaram por algumas
mudanças nesse período, desde grupos coesos que se tornaram
fluidos, formação de novos grupos, aumento e redução na
população, ou o aumento do uso de mais estratos da floresta,
como o uso do chão. Assim, no primeiro capítulo os grupos
sociais têm padrões de agrupamento fluido, que resulta em
subgrupos que variam no seu tamanho e composição ao longo do
dia e do ano. Investigamos se a variação no tamanho e
composição dos subgrupos podem ser correlacionados com
variáveis espaciais como as distâncias diárias percorridas e
as distâncias entre os subgrupos. As distâncias diárias
percorridas foram positivamente correlacionadas ao tamanho dos
subgrupos apenas nos meses chuvosos e positivamente com a
proporção das fêmeas, e sugerem que as distâncias percorridas
podem estar ligadas à disponibilidade e/ou a necessidade de
maior demanda de recursos das fêmeas. O fato da distância entre
subgrupos ser maior nos meses secos, indica, a menor
disponibilidade de recurso, e que assim podem evitar a
competição, já o fato de não estar correlacionado com o
tamanho dos subgrupos e composição foi inesperado do ponto de
vista da competição, o que seria motivo para fissão, mas é
consistente com a proximidade entre subgrupos para manter os
benefícios durante os encontros intergrupais. Ambos resultados
mostram a flexibilidade que a dinâmica de fissão-fusão pode
oferecer, e indicam a importância de considerar as relações
intergrupais além das relações intragrupais. Outra mudança
observada no uso do espaço ocorreu após a redução da
população de muriquis em cerca de 10%, e, por isso, no segundo
capitulo verificamos que variações ao longo do tempo na
demografia das populações de primatas podem influenciar como o
espaço disponível é utilizado. Analisamos o uso do espaço de
cinco grupos quando a população reduziu, e comparamos os
resultados encontrados quando a população era maior (agosto de
2010 a julho de 2013). Durante o período deste estudo, os cinco
grupos de muriquis usaram 12% a menos do que observado
anteriormente, com uma redução de 35.8% do uso fora da área da
reserva. As áreas de uso dos grupos também foram entre 2.7% a
32,5% menores do que observado antes. O tamanho da área nuclear
não foi influenciado pela redução no número de indivíduos,
mantendo-se estável no maior grupo e aumentou nos outros grupos.
As sobreposições de área de uso e áreas nucleares entre todos
grupos foi menor ou não ocorreu, porém, a formação de um novo
grupo através da fissão gerou uma sobreposição moderada entre
estes grupos envolvidos mesmo depois de alguns anos. Acompanhar
os padrões de uso do espaço a longo prazo após mudanças
demográficas, demonstra a capacidade dos grupos de se adaptarem
às mudanças ecológicas, como mais espaço disponível, maior
disponibilidade de recursos e menor competição, e pode
proporcionar uma melhor compreensão do uso do espaço em outras
populações e outras espécies. No terceiro capítulo, uma vez
que estes primatas são capazes de explorar uma variedade de
substratos verticais, como as camadas da copa, sub-bosques e até
o uso do chão,. Nós investigamos o uso do espaço
tridimensional (3D) do maior grupo de muriquis da RPPN-FMA,. Nós
observamos que a porcentagem do tempo que os muriquis ocuparam os estratos da floresta variaram de 3 % no uso do chão até 35% nos
estratos entre 5 e 10 m. Quando incluímos em nossas análises a
altitude do relevo e a altura dos estratos da floresta em que as
atividades comportamentais acontecem, o volume anual da área de
uso 3D foi 118 milhões de metros cúbicos e o volume da área
nuclear 3D foi 20 milhões de metros cúbicos. Não houve
correlação entre área de uso 3D e a área de uso 2D, o que
significa que estamos medindo tipos de uso de espaço diferentes.
Contudo, as áreas nucleares 3D estavam correlacionadas com as
áreas nucleares 2D, o que indica que os muriquis precisam de uma
área mínima para suas atividades. Estes resultados mostram a
importância do espaço vertical em análises do uso do espaço
de espécies que vivem em uma área limitada e em alta densidade,
pois mostram a necessidade de entender os possíveis benefícios
ao acessar recursos variados e intensivamente em vários
estratos, e os custos energéticos para explorar áreas
inclinadas e com florestas perturbadas em comparação a uma mata
em área plana e menos estratos utilizados.

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