Cruzamentos experimentais revelam estágios iniciais de especiação em Akodon cursor (Rodentia, Cricetidae)

Nome: AMANDA FREITAS HAASE

Data de publicação: 14/08/2025

Banca:

Nomeordem decrescente Papel
ANA PAULA CARMIGNOTO Examinador Externo
SARAH MARIA VARGAS Examinador Interno
VALERIA FAGUNDES Presidente

Resumo: Akodon cursor Winge, 1887 é uma espécie notável por sua ampla distribuição geográfica
no Leste da Mata Atlântica, abrangendo um extenso gradiente latitudinal em mais de 2500 km de
extensão, desde Paraíba, até norte do Paraná, passando pelos estados de Pernambuco, Bahia, Minas
Gerias, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo; por apresentar alta diversidade cariotípica, com
31 cariótipos reconhecidos para a espécie, com variação do 2n de 2n=14, 15 e 16, distribuídos com
frequêncas distintas entre as populações; e por mostrar estruturação filogeográfica em três clados
(Norte, Central e Sul) com alto suporte, contendo os três 2n em cada clado. Questiona-se a
existência de mais de um táxon associado ao nome A. cursor, seja pela distinção pelo cariótipo, pela
geografia, ou por ambos. Assim, este estudo utilizou dados de cruzamentos experimentais intra- e
interpopulacionais para verificar a existência de barreiras reprodutivas entre populações
representativas da variabilidade geográfica, filogenética e cariotípica da espécie: Pernambuco (PE,
clado Norte, 2n = 16), Bahia (BA, clado Norte, 2n = 14, 15 e 16) e Espírito Santo (ES, clado Sul, 2n
= 14). Matrizes (31 machos e 24 fêmeas) coletadas da natureza entre 2013 e 2016, geraram 495
descendentes vivos por meio de 334 cruzamentos, dos quais 66 cruzamentos intrapopulacionais
forneceram subsídios para a definição de parâmetros reprodutivos para a espécie: Sucesso
Reprodutivo (RS, i.e., proporção de cruzamentos com produção de prole), Tamanho de Ninhada
(LS) e o Período de Gestação em dias (GL). A análise de RS se deu por Modelos Lineares
Generalizados (GLM) Bayesianos e de LS por Kruskal–Wallis seguido de teste pós-hoc de
Conover–Iman. Cruzamentos interpoplacionais foram utilizados para analisar a existência de
barreiras reprodutivas. Cruzamentos intrapopulacionais apresentaram RS = 56,06%, LS = 3,7 ± 1,04
e GL = 24,6 ± 1,69. Dentre os cruzamentos interpopulacionais, os que mostraram RS reduzido
foram PE 16 xES 14 (RS = 26,67%) e PE 16 xBA 14-16 (RS = 0), sugerindo a existência de barreira
reprodutiva incompleta entre eles. Por outro lado, BA 14 xES 14 (RS=33%) não apresentaram barreira.
Os descendentes com 2n = 15 (F 1 15 ) são machos estéreis e fêmeas férteis no cruzamento
interpopulacional PE 16 xES 14 , enquanto no cruzamento intrapopulacional BA 16 xBA 14 os F 1 15 são férteis
(RS=14,3%), apesar do RS baixo. Nossos dados sugerem que, baseado nos dados de SR, não há
suporte para afirmar efetivo isolamento reprodutivo entre as populações. Machos F 1 estéreis e
fêmeas férteis dos cruzamentos ES 14 xPE 16 são consistentes com a Regra de Haldane, um padrão
observado em isolamentos pós-zigóticos. Ainda, os valores de RS reduzidos observados são
compatíveis com o fenômeno de Reforço Assimétrico, sustentado pelo menor valor adaptativo dos F 1 entre estas populações. Os padrões de redução do RS também não estão congruentes com o arranjo filogeográfico da espécie, com menor RS em cruzamentos dentro do mesmo clado (BA e PE). Observa-se, portanto, que indivíduos 2n = 15 possuem desempenhos reprodutivos distintos, variando de um extremo ao outro. Propõe-se, portanto, um modelo de especiação incipiente
complexo, impulsionado por fatores geográficos e cariotípicos, com diferentes graus de isolamento
reprodutivo.

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