Relacionamentos sociais de fêmeas de muriquis-do-norte (Brachyteles hypoxanthus Primates, Atelidae.
Nome: Carla de Borba Possamai
Tipo: Tese de doutorado
Data de publicação: 25/06/2013
Orientador:
Nome | Papel |
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Karen Barbara Strier | Orientador |
Banca:
Nome | Papel |
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Albert David Ditchfield | Examinador Interno |
Cristiane Cäsar Coelho Dantas | Examinador Externo |
Daniel Marques de Almeida Pessoa | Examinador Externo |
Karen Barbara Strier | Orientador |
Sérgio Lucena Mendes | Examinador Interno |
Resumo: A maioria das espécies de mamíferos vivem em grupos sociais e formam relações próximas com seus conspecíficos. Nos primatas os grupos podem variar quanto ao grau de coesão e quanto a sua composição, sendo a última determinada por padrões de dispersão. A vida em grupo fornece aos primatas o contexto dentro do qual devem tomar decisões que lhes garantam a sobrevivência e o sucesso reprodutivo, porém e estabilidade dos grupos depende da habilidade dos indivíduos em se reconhecer e de lembrar com quem tenham interagido. Os humanos utilizam as faces para obter informações importantes sobre a identidade, sexo, idade e intenções de seus conspecíficos, que são essenciais para a vida em sociedades complexas, e existem evidências de que primatas não humanos processam as informações contidas na face de forma similar. Muitos primatas apresentam uma grande variação de coloração da pelagem e da pele, e acredita-se que os sinais conspícuos advertidos por essas variações são direcionados à seus conspecíficos como forma de comunicação visual. Os primatas são altamente sociais e capazes de se comunicar e interagir com qualquer membro do grupo porém, os laços familiares são mais importantes e a cooperação e as associações preferenciais com esses indivíduos trazem mais benefícios diretos e indiretos. Normalmente as relações sociais dos membros filopátricos de um grupo são mais intensas e acredita-se que o sexo que dispersa normalmente é o menos social. Contudo, existem mecanismos que auxiliam o processo de reconhecimento de indivíduos e de parentesco e entre os primatas os mais prováveis são a familiaridade e a correspondência fenotípica. Os muriquis-do-norte (Brachyteles hypoxanthus), objetos desse estudo, apresentam características morfológicas que podem ser vantajosas para o reconhecimento entre indivíduos e utilizadas para facilitar as relações sociais. Os muriquis-do-norte nascem com a pele da face escura mas ao amadurecer começam a sofrer um processo de despigmentação formando diferentes padrões que são únicos para cada indivíduos. Suas relações sociais são igualitárias, e a estrutura social, similar a de chimpanzés e macacos aranha é patrilocal e a dispersão é realizada pelas fêmeas apenas. Como e com quem as fêmeas desenvolvem e mantém relações sociais benéficas após a dispersão ainda não sabemos. Entretanto, os muriquis-do-norte nos dão a oportunidade de investigar e aprofundar o entendimento sobre os mecanismos que podem influenciar as escolhas das fêmeas por potenciais relacionamentos sociais com suas irmãs maternas e outras fêmeas conhecidas do grupo natal, mesmo após a dispersão. Neste estudo procuramos responder a três perguntas, relacionadas ao reconhecimento de parentesco e preferências sociais das fêmeas: (i) se indivíduos maternalmente relacionados apresentam características faciais similares; (ii) humanos são capazes de reconhecer semelhanças faciais entre os muriquis que têm relações de parentesco; e por último (iii) os muriquis mantém associações preferenciais e relações afiliativas mais intensas os indivíduos maternalmente relacionados após a dispersão do grupo natal? Para responder as duas primeiras perguntas utilizamos fotografias das faces dos muriquis-do-norte. Usando o programa R para extrair as informações contidas nas fotografias, encontramos que os padrões de despigmentações são similares para indivíduos com relações de parentesco. Em seguida avaliamos em uma perspectiva comparativa a habilidade dos humanos em reconhecer semelhanças faciais. Os resultados deste estudo envolvendo N=401 voluntários corroboraram com nossa predição de que os muriquis-do-norte apresentam semelhanças entre indivíduos parentes e que humanos são capazes de detectar as relações de parentesco. Por fim avaliamos as relações sociais das fêmeas adultas de três dos quatro grupos que compõe a população de muriquis-do-norte da RPPN-Feliciano Miguel Abdala, utilizando dados comportamentais coletados de janeiro a dezembro de 2011. Como previsto associações entre as fêmeas adultas são mais frequentes do que com outros membros do grupo. Nosso resultados indicam que a familiaridade tem papel importante nas relações sociais pós-dispersão e que os muriquis-do-norte devem utilizar informações contidas nos padrões de despigmentação para distinguir indivíduos com quem desenvolvem relações afiliativas. Este estudo contrinue com a crescente literatura sobre os mecanismos pelos quais os primatas reconhecem um a outro e os papeis das relações de parentesco e familiaridade na estruturaçãoo das suas relações sociais.