Cadeia Vitória-Trindade: um trampolim para peixes recifais
Nome: Thiony Emanuel Simon
Tipo: Tese de doutorado
Data de publicação: 09/09/2014
Orientador:
Nome | Papel |
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Jean-Christophe Joyeux | Orientador |
Simone Santos da Silva | Co-orientador |
Banca:
Nome | Papel |
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Antonio Mateo Solé-Cava | Examinador Externo |
Jean-Christophe Joyeux | Orientador |
Leonora Pires Costa | Examinador Interno |
Rodrigo Leão de Moura | Examinador Externo |
Yuri Luiz Reis Leite | Examinador Interno |
Resumo: A Ilha da Trindade e o Arquipélago Martin Vaz, localizados a cerca de 1.200 km da costa central do Brasil, constituem os ambientes recifais mais isolados da província biogeográfica brasileira. Essas ilhas abrigam uma elevada riqueza de espécies de peixes recifais e sua composição é muito similar à da margem ocidental do Oceano Atlântico. Esse padrão tem sido atribuído à presença de uma série linear de montes submarinos, os quais, juntamente com as ilhas, compõem a Cadeia Vitória-Trindade. Hipoteticamente, os montes seriam utilizados como trampolins, permitindo que espécies de baixa capacidade de dispersão
colonizassem ambientes adjacentes, sucessivamente, até alcançarem as ilhas, localizadas no extremo oriental da cordilheira. No presente trabalho, essa hipótese é avaliada utilizando uma abordagem filogeográfica comparativa. Duas espécies de peixes recifais foram
selecionadas como modelos para representarem cenários distintos de fluxo gênico ao longo da cordilheira. Marcadores moleculares do DNA mitocondrial (sequências parciais do gene Citocromo B e da Região Controle) e do DNA nuclear (12 loci de microssatélites) foram combinados para investigar a distribuição das linhagens genéticas, a estruturação populacional, a história demográfica e o fluxo gênico histórico e contemporâneo. Na espécie selecionada para representar um cenário de elevada capacidade de dispersão, Cephalopholis
fulva, foi observada pouca estrutura populacional, ausência de isolamento por distância e ampla distribuição das linhagens. Por outro lado, na espécie que representa um cenário de capacidade dispersiva limitada, Stegastes pictus, as ilhas estão isoladas das demais
populações durante a maior parte do tempo e, ao longo de toda a cordilheira, foi detectado que existe isolamento por distância. Aparentemente, as ilhas ficam conectadas com o Columbia, o monte submarino mais próximo, apenas durante os máximos glaciais. Esse
monte também parece ter exportado linhagens genéticas para as demais populações em períodos de nível do mar abaixo do atual, funcionando como um trampolim essencial para conectar as ilhas à costa. Durante os máximos glaciais, quando o nível do mar chegou a
descer 130 m, a plataforma continental e os topos dos montes submarinos ficaram emersos, reduzindo a área recifal disponível e, consequentemente, o tamanho das populações. Em ambas as espécies, foi detectado que o fluxo gênico ocorre de acordo com o modelo de trampolins, onde a dispersão larval é restrita às, ou predominante entre, populações adjacentes. Este cenário indica que os montes submarinos são essenciais para que muitas espécies consigam chegar em Trindade, o que corrobora a hipótese biogeográfica. Visto que a Cadeia Vitória-Trindade tem sido seriamente ameaçada por atividades pesqueiras e de mineração e que a continuidade dos bens e serviços ecossistêmicos dependem da
manutenção do fluxo gênico, é recomendado que medidas urgentes de gestão do uso dessa região sejam tomadas.